A conquista da primeira casa própria
Durante a década de 50 o profissional passou a ser visto como um
consultor da família. Uma pessoa de confiança, responsável pela
comercialização do bem mais precioso: a casa própria. Foi nessa década
que o Sindicato dos Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo
adquiriu a sua primeira sede, deixando as instalações do Largo do Café,
n.º 14, que era alugada, e mudando para a rua Xavier de Toledo, 98, 2º e
3º andares, ambas localizadas no centro de São Paulo, onde estavam as
maiores e mais importantes imobiliárias da época.
Em outras capitais brasileiras os profissionais também começaram a se organizar.
A evolução da profissão do Corretor de Imóveis
O relato do Corretor Plínio Gonzaga, publicado no informativo O
Corretor de Imóveis - primeiro boletim publicado pelo Sindicato de
Corretores de Imóveis do Paraná, pelo Conselho Regional de Corretores de
Imóveis do Estado do Paraná e pela Câmara de Valores Imobiliários, no
mês de abril de 1972 - conta a história da organização neste Estado.
"Já vão longe os tempos em que o Corretor de Imóveis era chamado - nos
grandes centros - de zangão. Nessa época, Curitiba era uma província de
poucos milhares de habitantes. Todo mundo se conhecia e os negócios não
eram feitos sem os préstimos do profissional.
Pelos meados de 1950 começaram a surgir as primeiras imobiliárias, um
tanto tímido o seu comércio; sua ação tinha um lugar especialmente no
setor de loteamentos. Novos bairros despontavam em seus primeiros passos
e a atuação do Corretor de Imóveis foi inequívoca projeção, na
motivação, no incentivo e na colocação direta dos novos loteamentos.
No Capanema surgiriam as primeiras casas residenciais; o lote bem
situado custava 60 cruzeiros, sendo tudo bem facilitado, a longo prazo!
Na Vila Hauer o terreno era vendido por 20 cruzeiros (vinte mil
cruzeiros antigos); surgiram a Vila Faní, o Boqueirão, o Jardim
Guabirotuba, o Itupava, o Jardim Los Angeles e tantos outros. Mas, mesmo
no início das grandes arrancadas para a implantação de novos bairros,
os Corretores de Imóveis estavam unidos de mãos dadas à iniciativa
privada.
A Associação Profissional dos Corretores
de Imóveis do Estado do Paraná foi fundada na véspera do Natal de 1950.
Um grande passo para a valorização da classe, para a implantação futura
do profissionalismo. Seu quadro associativo contava com uma dúzia de
profissionais, a maioria dos quais de saudosa memória.
Em 1961, novo
evento de grande importância para a classe: surgiu o Sindicato de
Corretores de Imóveis de Curitiba, e já de início os líderes pensaram em
expandir a ação do órgão sindical, com a instalação de uma delegacia em
Londrina, capital do café, Norte do Estado, onde, em 30 anos, devido à
ação pioneira de Corretores de Imóveis, foram semeados povoados, vilas,
que aos poucos foram se transformando em cidades e comunidades, que
contavam com a presença de brasileiros de todos os Estados do país e, em
consequência de seu desenvolvimento, de seu progresso extraor dinário,
com a participação de dezenas e dezenas de estrangeiros das mais
diversas etnias, hoje todas integradas na vida paranaense e nacional.
Toda
essa gama de contribuição à economia brasileira: no comércio, na
indústria, na agropecuária e na mais notável fonte de diversificação de
econo mias rentáveis, tem tudo isto, como ponto de partida, a
participação ativa e mesmo desassombrada do Corretor de Imóveis. Ele que
tanto trabalhou e continua contribuindo sob todas as formas para o
bem-estar social, bem mereceria a construção de um marco de
reconhecimento pelos relevantes serviços prestados. Homem dotado de
grande energia, de desprendimento e de capacidade imaginativa, com uma
visão do futuro, foi e é capaz de transmitir estímulo, confiança à
iniciativa de outros homens que, levados pelas mãos do Corretor, irão se
tornar pioneiros, senhores da terra e dignos da admiração das gerações
porvindouras".
A organização da profissão em Minas Gerais
Os Corretores de Imóveis de Minas Gerais começaram a se organizar na
década de 50, por intermédio de reuniões nos escritórios imobiliários.
Em um deles, a Imobiliária Filadélfia, de propriedade de Nilton Marques
Barbosa, foi fundado em 1956 o Sindicato dos Corretores de Imóveis de
Minas Gerais. Este sindicato, assim como em São Paulo, sucedeu a
Associação dos Corretores de Imóveis, fundada em 1953 por um grupo de
Corretores liderados por Delcio Alves Martins, Sebastião Maurício da
Silva, Antônio Alves Gomes, Joaquim Vitorino Júnior, Waldemiro Costa
Lima, Moacir de Moraes Miranda, Pedro N. de Araújo e Araci Santos. O
primeiro presidente do Sindicato foi Waldomiro Costa Lima.
"A situação naquela época era muito difícil. Lembro-me que para que o
sindicato funcionasse, foi necessário que cada um dos fundadores doasse
os móveis. Mesmo a viabilidade financeira também só foi possível graças a
doações", conta Nilton Marques Barbosa. Todo esse sacrifício foi
compensado pelos resultados obtidos na melhoria da convivência entre os
profissionais de Belo Horizonte.
Com a entrada em
vigor da Lei nº 4.116/62, criando os conselhos regionais, José de Araújo
Lima ajudou a fundar o Creci, assumindo até mesmo compromissos
financeiros em seu nome pessoal. Foi o primeiro filiado da entidade,
sendo portador da carteira n.º 1. Devido à sua capacidade de liderança,
acabou presidindo o Creci por quatro vezes e o sindicato por duas.
Após ter se afastado por alguns anos, voltou a participar em 1978 como
conselheiro do Creci e em 1979 foi eleito vice-presidente, assumindo
logo em seguida a presidência. Como trabalhos nessa época, ampliou a
sede própria, fundou nove delegacias sub-regionais no interior e
dinamizou o departamento de fiscalização. Em julho de 1979 foi reeleito
presidente do Creci e conselheiro federal para o mandato de três anos.
No dia 26 de outubro licenciou-se para tratamento de saúde, vindo a
falecer cinco dias depois.
O seu falecimento
repercutiu junto a diversas entidades de classe e setores relacionados à
atividade no Estado de Minas Gerais. O Creci recebeu dezenas de
manifestações lamentando o seu falecimento pela Assembléia Legislativa e
da Câmara Municipal.
Todo esse apoio à categoria
pode ser explicado pela importância da atividade para o crescimento da
cidade de Belo Horizonte, onde mais de 80 mil lotes (um terço da área
urbana) foram demarcados e comercializados pelos Corretores mineiros.
Outro importante personagem na história da categoria, em Minas Gerais,
foi o Corretor de Imóveis Antônio Quadros Maia, atual conselheiro
federal do Cofeci. Ele iniciou sua atuação no mercado imobiliário em
1964, na cidade de Montes Claros. Foi presidente do Sindicato de
Corretores de Imóveis de Minas Gerais por quinze anos (1981-96) e
fundador da Fenaci - Federação Nacional de Corretores de Imóveis, e da
Abraci - Associação Brasileira de Corretores de Imóveis. Filho de
fazendeiro abastado, Quadros Maia começou a vender lotes e passou a se
interessar cada vez mais pela profissão. Hoje é conhecido em todo o
Brasil como um dos principais líderes sindicais da categoria.
O crescimento não parava mais
Os descontos dos Corretores nos anúncios imobiliários dos jornais eram
freqüentes. Havia uma preocupação por parte dos sindicatos em sempre
estar divulgando a relação das pessoas que recebiam as carteiras de
Corretores, reforçando a credibilidade da categoria, assim como a
postura que deveriam adotar em relação às taxas e impostos a serem
pagos.
A preocupação com a afirmação da classe era
tão grande que os sindicatos procuravam ser o mais transparentes
possível em suas decisões. Publicavam em seu boletim mensal notas a
respeito de reajustes salariais para funcionários dos Corretores e fatos
sociais. O auxílio jurídico estava sempre em pauta, sendo divulgado em
notas nos boletins da entidade.
I Congresso Nacional de Corretores e a fundação de Brasília
Durante o I Congresso Nacional dos Corretores de Imóveis, realizado no
mês de setembro de 1957, no Rio de Janeiro, compareceu a delegação do
Sindicato dos Corretores de Imóveis do Estado de Goiás, composta por um
grande número de Corretores de Imóveis, altamente representativos da
classe neste Estado e chefiada por seu presidente, o empresário Elias
Bufaiçal.
Além de participar dos debates sobre a
necessidade de se proceder à regulamentação do exercício da profissão de
Corretor de Imóveis, a delegação de Goiás, por intermédio de seu
dirigente, apresentou duas importantes proposições: a de se dirigir ao
presidente da República, dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira, uma moção
de integral apoio à mudança da capital federal para Brasília e a de se
promover a venda de terrenos da nova capital do país por intermédio dos
Corretores de Imóveis e sob a supervisão dos respectivos sindicatos.
Estas propostas foram aprovadas pelo plenário do Congresso, realizado no
amplo auditório da Associação Comercial do Rio de Janeiro.
A propósito da venda de terrenos de Brasília, Elias Bufaiçal incumbiu o
sr. Antônio Jorge Azzi a entrar em contato com o presidente da Novacap,
Israel Pinheiro, em 12 de dezembro de 1957.
Em companhia de um
engenheiro designado pelo presidente da Federação do Comércio do Rio de
Janeiro ficou confirmada a venda de terrenos de Brasília por intermédio
de Corretores de Imóveis sindicalizados e acertado alguns detalhes
inerentes à sua operação. Os sindicatos passaram a adotar medidas no
sentido de regulamentar legalmente a profissão.
Nesse congresso foi elaborado o primeiro projeto de lei para a
regulamentação da profissão. Para tanto, contaram com a colaboração do
então deputado federal, Adílio Martins Viana. Esse projeto foi
apresentado por Ulysses Guimarães em 1951, sendo arquivado até 1957,
quando foi anexado ao substitutivo que deu origem à primeira lei que
regulamentou a atividade, em 27 de agosto de 1962.
A organização da profissão na Bahia
No dia 28 de novembro de 1958, quatro anos antes da promulgação da Lei
nº 4.116/62, conforme atas de reunião, reuniram-se, na rua Portugal, n.º
08 - 1º andar, os srs. José Andrade Guimarães, Eduardo Menezes Liberato
de Matos, Luiz Mesquita de Souza, Pedro Ferreira Pena, Memede Lopes de
Oliveira, Alcione Homem de Siqueira Cavalcante, Artur Medeiros de
Farias, Lauro Lins de Santana, João Rodrigues de Jesus, Franklin
Cavalcante de Araújo, José Antônio de Araújo Netto, Nilo Altamirando
Lopes e Nicanor de Oliveira, que organizaram a Sociedade Beneficente dos
Vendedores de Imóveis do Estado da Bahia, com a finalidade de congregar
vendedores de imóveis do Estado, apoiando-os e defendendo-os com base
na legislação vigente no país. Após preenchidas as formalidades legais, a
sociedade transformou-se em Sindicato dos Vendedores de Imóveis do
Estado da Bahia.
No dia 6 de dezembro as mesmas pessoas voltaram a
se reunir, tendo conseguido novas adesões: Jonas Santana, Fernando
Motta, Graciliano de Oliveira, José Soares Amorim, Oswaldo Britto
Salles, Francisco Chaves, Osvaldo Almeida, Jessé Maranhão Pinto, Antônio
Ribeiro, Ernesto Sanctis e Wilson Carvalho Oliveira. Nessa reunião, o
nome da sociedade passou a ser Associação Profissional dos Corretores de
Imóveis do Estado da Bahia. No dia 30 de dezembro, foi aprovado, por
unanimidade, os cinco primeiros capítulos do estatuto da recém- fundada
organização.
Assim que tomou conhecimento da
homologação da Lei nº 4.116, de 27 de agosto de 1962, José Andrade,
presidente da associação, publicou no Jornal da Bahia de 25 de outubro
de 1962 o seguinte aviso:
Associação Profissional dos Corretores de Imóveis do Estado da Bahia
Edifício Cidade de Ilhéus, 8º andar, sala 801 - Av. Estados Unidos, 10, Salvador Bahia
Edital de Convocação
Na qualidade de Presidente desta Associação convoco a sua Assembléia
Geral, para dia 27 corrente, às 15:00 horas, em 1ª convocação com 2/3 e
às 17:00 horas em 2ª com qualquer número, para dar cumprimento à Lei
Federal n.º 4116, de 27 do corrente ano, elegendo o Conselho Regional
dos Corretores de Imóveis, de que trata o art. 12, conforme determina o
art. 20 da mesma Lei.
Local da reunião: Av. Sete, 16, 2º andar.
Salvador, 25 de outubro de 1962
José Andrade Guimarães
Presidente
Entre 1958 e 1964 a organização da categoria passou por um período de
formação. Reuniões foram adiadas por falta de quorum para que pudessem
ser tomadas as providências, havia divergências quanto os valores das
mensalidades, oposições até quanto a aquisição de uma linha telefônica e
etc.
Até 1964, a Associação Profissional dos Corretores de Imóveis
exerceu ao mesmo tempo o papel de órgão fiscalizador e orientador em
todas as atas. Pode-se observar a preocupação entre os membros da
diretoria em defender o mercado de trabalho e orientação nos
procedimentos a serem adotados. A Federação do Comércio do Estado da
Bahia, por intermédio de seu presidente Geraldo Mota, apoiou a formação
da associação - mais tarde Sindicato dos Corretores de Imóveis - por
meio do empréstimo de salas para reuniões. Ainda hoje a Federação do
Comércio prestigia e apóia as ações do Sindimóveis e do Creci 9ª Região.
No dia 17 de novembro de 1964, na sede da associação, na rua Estados
Unidos, 10, edifício Cidade de Ilhéus, sala 801, foi entregue aos sr.
José Andrade Guimarães (presidente da associação), Antônio Alves Almeida
(diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Comércio),
representando o ministro do Trabalho, a carta patente do Sindicato de
Corretores de Imóveis do Estado da Bahia, datada de 30 de setembro de
1964. No dia 24 de novembro houve uma reunião da direção do sindicato
para deliberação sobre a primeira diretoria. Um dos associados (Mário
Comini) propôs o nome do presidente da associação para a presidência do
sindicato.
Corretoras de Imóveis
O Código Comercial Brasileiro, no seu artigo 37, ao especificar os que
não podem exercer a função de Corretor, incluía as mulheres. Este quadro
só foi alterado a partir de março de 1958, por meio de uma decisão do
Tribunal de Justiça, em função da Constituição que revogava o artigo
proibitivo constante no Código Comercial.
A decisão do tribunal
levou em consideração o fato de que a proibição se baseava apenas no
sexo e que não havia nenhuma outra razão para o impedimento. A decisão
foi provocada pelo processo impetrado junto à Vara dos Feitos da Fazenda
Estadual, por uma senhora que pretendia ser admitida como Corretora da
Bolsa Oficial de Valores de Santos (litoral sul de São Paulo). A Câmara
Sindical indeferiu o pedido, alegando o inciso II do Código Comercial.
Este mandato não teve êxito. O juiz entendeu que o ato impugnado se
baseava em expressa disposição do estatuto especial. Não conformada, a
referida senhora recorreu ao Tribunal de Justiça. A sua persistência foi
finalmente coroada de êxito. A 1ª Câmara Civil do Tribunal de Justiça,
ao apreciar a matéria, no agravo de petição n.º 85.384, reformou a
sentença de primeira instância para conceder a segurança à mulher que
pretendia ser Corretora.
Para chegar a essa conclusão, a corte
partiu do princípio de que a Carta Magna da República tornava livre o
exercício de qualquer profissão, desde que observadas as condições de
capacidade estabelecidas em lei. As restrições, portanto, ao exercício
de qualquer profissão somente podem referir-se à matéria de capacidade.
Qualquer outra que porventura venha a ser imposta e que fuja a essa
espécie de condição, é obviamente inconstitucional. O sexo,
evidentemente, não poderia ser incluído entre as condições previstas na
Constituição.
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